Em nenhum outro momento de sua história, o homem avançou tanto em suas conquistas no conhecimento. Nunca o ser humano experimentou uma evolução tão grande como hoje. Em contra partida, nunca esteve tão longe de si mesmo quanto agora.
À medida que desvendamos mistérios da ciência, trocamos nossa humanidade por tecnologia. Estamos nos tornando máquinas programadas a agir de forma pré determinada.
Vivemos como artistas num palco, simplesmente representando um papel, o qual nem sempre entendemos. A sociedade nos impõe padrões, ideais de vida, ambições, as quais aceitamos passivamente e sem pensar. Na realidade não pensamos mais.
Todo palco necessita de um cenário. Assim também é conosco. Esquecemos, porém, que todo cenário é um grande faz de conta, uma mentira. Pura aparência. É nessa aparência que achamos que somos felizes. Buscamos aparência ao invés de procurar nossa própria alma. Vivemos em função de satisfazer expectativas da plateia. Quando conseguimos, mentimos a nós mesmos imaginando ter alcançado o objectivo. O personagem que geralmente nos é imposto deve preencher alguns requisitos: é alguém bem sucedido, de aparência que a plateia deva aprovar, sem esquecer é óbvio, das roupas de marca. Tudo que represente status e poder é indispensável para a construção do personagem. E assim a vida se esvai no palco da vida. Vivemos um roteiro escrito por estranhos, que somente se preocupam em cumprir o protocolo. Não se importam com pessoas. Não se importam com vida. E como bons atores da vida, empenhamos em satisfazer o roteirista. Ao final do ato, ouvimos os aplausos e nos sentimos realizados. Ao entrar no camarim, sentamos frente a frente com o espelho, tiramos nossa maquiagem, e sentimos que há algo errado. Vem o director, dizendo que tudo foi perfeito. Mais uma vez mentimos a nós mesmos. Vamos dormir, afinal amanhã temos que representar um novo ato.
Um dia acordei. Ao olhar no espelho do camarim vi um estranho debaixo da maquiagem. O sorriso da máscara transformou-se em lágrimas de angústia. Os aplausos que ainda ouvia ao fundo exaltavam apenas minha cegueira em não ver o impostor que vive em mim. Fitando o espelho, deparei-me com um rosto estranho, mas que de alguma forma parece que já tinha visto. Deu-me saudade do que nunca tive. Desisti de viver uma vida de representação. Quero minha própria vida, buscando o real propósito que o Criador tem para mim. Como é bom sentir o vento na pele, e não na maquiagem. Como é bom viver sem um cenário de faz de conta, usar minhas próprias roupas, e viver com a minha alma. Como é bom poder olhar no espelho e encontrar o meu rosto.
Mas olho para trás, e vejo que o palco continua montado, outro artista tomou meu lugar, meus antigos companheiros já me esqueceram. Preferem o palco. A plateia aguarda ávida pelo novo palhaço.
Afinal... O show não pode parar.
Até quando?
Bruno Wedel
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